terça-feira, 16 de setembro de 2008

China - a potência emergente (desenv. parte II)


OPresidente da República acaba de realizar uma longa viagem à China acompanhado de uma vasta comitiva empresarial. Portugal, país pequeno na Europa, tem destas coisas, que a História nos proporciona, permitindo- -nos ter um "especial relacionamento" com esta potência emergente, que não deixará de se afirmar de forma decisiva até meados deste século.Com uma população de 1,3 mil milhões de habitantes e um PIB que representa cerca de 5% do PIB mundial, a combinação entre "capitalismo económico" e " comunismo político" tem permitido taxas de crescimento, nos últimos 20 anos, entre 7% e 10% ( e 7,1% foi só em 1999).É hoje recorrente divulgar dados impressionantes sobre grandes mudanças económicas e sociais na China. Menores do ponto de vista político, pelo menos formalmente, mas inevitáveis.Importa relembrar alguns elementos desde 2000, cerca de 200 milhões de habitantes das zonas rurais deslocaram-se para as cidades; o investimento directo estrangeiro tem entrado nos últimos três anos, a um ritmo de cerca de um milhar de milhão de dólares por semana; até 2007 prevê-se que 1/3 da indústria electrónica mundial esteja localizada na China; cerca de 25% dos contentores que circulam no mundo passam pela China; 10 300 km de auto-estradas foram postos em serviço em 2002/2003. Até 2010 prevê-se uma rede de cerca de 70 000 km, o que pressupõe um ritmo de construção anual de 5000 km; no sector do calçado dos 13 mil milhões de pares produzidos no mundo anualmente, 7 mil milhões são chineses, e destes 4 mil milhões para exportação; as importações europeias de vestuário de origem chinesa quase triplicaram entre 1995 e 2003 de 3,9 mil milhões de euros para 10,6; a China é o 1.º produtor mundial de nylon, produz 65% das bicicletas produzidas no mundo, 95% das raquetas de ténis, 70% dos isqueiros, mais de uma máquina fotográfica digital por cada duas vendidas no mundo.Os números poderiam continuar. À sua caminhada para potência económica mundial determinante (e dominante) seguir-se-á a sua potência militar e política.O que pode representar para Portugal? O nosso relacionamento histórico com a China permite- -nos ter hoje uma posição relativamente privilegiada face a este gigante. Mas este privilégio político deve traduzir-se em posição económica real. Já sei que me vão lembrar o risco que parte da nossa indústria corre com a concorrência dos produtos made in China, bem como com a deslocalização da produção a nível mundial. Acresce a distância deste mercado e a nossa fraca capacidade competitiva. É necessário ter isto presente, mas gostaria de pôr em evidência a outra face da moeda.Face à dimensão e dinâmica da sociedade e do mercado chineses, julgo que uma prospecção adequada permitirá encontrar nichos de mercado para produtos e serviços portugueses, bem como encontrar melhores formas de cooperação com parceiros estrangeiros e locais para a penetração e consolidação no mercado chinês.Dada a colossal disparidade de dimensões, qualquer pequena compra ou abertura por parte da China tem um grande impacto numa economia como a portuguesa. É uma aposta que vale a pena fazer, com determinação e inteligência. E um dos exemplos desta inteligência deve ser o de não procurar lutar ao mesmo nível de sofisticação. Não temos dimensão para produções de massa, logo serão mais indicadas a produção e vendas selectivas para zonas e segmentos de mercados selectivos.

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